quinta-feira, 5 de março de 2009

O GOL IOGURTE

Quem lembrou dessa história foi o meu grande amigo Rafa. Mas antes de contar o milagre, seria legal apresentar o santo.

Abre parênteses.

O autor da façanha chamava Juliano (ou Giuliano, sei lá). Loiro, cabelo escovinha, óculos de aro de tartaruga, usava sempre uma camiseta do Palmeiras e mexia muito as mãos enquanto falava.
É, talvez o nome dele fosse Giuliano mesmo. Bom, mas tanto faz.

O que interessa é que um dia o Juliano chega na escola fazendo aquela cara de quem tem informações privilegiadas sobre alguma coisa. Sabe quando o cara toma fôlego antes de dar uma grande notícia, mas não fala nada, pra fazer suspense? Eu achei que ele ia dar um arroto, mas aí ele anunciou:

- Eu sei cantar o hino do Grêmio.

A verdade é que quando você tem 9 anos e mora em São Paulo, conhecer alguém que canta o hino do Grêmio não está entre as coisas mais empolgantes. Mas mesmo diante da absoluta falta de reação da galera, o Juliano saiu cantando:

- Até a pé nós iremoooos
Para o que der e dieeeer...

Assim mesmo, “dier”, com d. O saudoso Oléa, que era o cara mais forte da classe, berrou:

- Moleque, você é burro!!! Num é “dier”, é “vier”!!!

Visivelmente contrariado com a interrupção, o Juliano perguntou:

- Você sabe o hino do Grêmio?

O Oléa, claro, respondeu que não. Aí o Juliano deu um sorriso superior, levantou as sobrancelhas e fuzilou:

- Então, COMO você sabe que não é “dier”?

Eu não sei vocês, mas eu achei a lógica do cara inatacável...

Fecha parênteses.

Hora do recreio. Todas as crianças jogando futebol. E Juliano, claro, não podia ficar de fora. Acontece que ele era o único cara que tinha o saudável hábito de não trocar a comida pelo futebol. Deixava sua lancheira ao lado da quadra, e ia comendo durante o jogo, sem prestar muita atenção no que tava rolando.

E então, o milagre aconteceu.

Finalzinho do recreio, jogo empatado, bola pra lá, bola pra cá, e o Juliano saca da lancheira seu iogurte Vigor de Morango. Mas como tomar iogurte jogando futebol não é muito fácil (mesmo pra alguém que aos 9 anos já sabe cantar o hino do Grêmio), nosso herói se esquece do jogo, limitando-se a caminhar pela quadra. É aí que, enquanto ele anda na direção do gol, alguém cruza uma bola na frente da área. E Juliano, marcado apenas pela Natureza e olhando apenas para o seu potinho, encaixa sem perceber a passada na trajetória da bola, e acerta sem querer uma bicuda indefensável no canto do goleiro. O mais legal é que ele foi a última pessoa da quadra a perceber que tinha feito o gol! Mas assim que entendeu o que tinha acontecido, Juliano jogou seu potinho pra cima e saiu correndo de braços abertos pra uma torcida que só ele via, inundando a quadra com aquele iogurte cor de rosa, e selando a grandiosa vitória de sua equipe!

Aí o sinal bateu, todo mundo voltou pra classe, e o Juliano passou o resto do ano dizendo que aquele era o Gol do Século. Mas pra gente, aquilo ficou conhecido mesmo, até hoje, como o Gol Iogurte.

Um comentário:

  1. Eu sempre tive pena dos 'simples', como o Jiuliano (na duvida, chamo assim). Mas no caso dele (e do Clécio), o dó terminava quando eles excediam a estupidez... acho que o ABP devia se aplicar pra eles, sei lá...
    Ah, e só pra registrar, eu tava na quadra também e presenciei essa cena bizarra... rs

    ResponderExcluir