quinta-feira, 26 de março de 2009

PAPO HIPOTÉTICO NA SALA DE DEUS

Então, aí eu morro e peço pra falar com Deus. E Ele, claro, como é misericordioso e tudo aquilo, me dá a honra de descolar um espaço na agenda. Aí eu bato na porta da sala D’ele.

- Entra!

E eu entro.

- Deus?

- Opa!

- Nossa, muito obrigado por me receber!

- Imagina.

E eu fico ali parado, olhando, de boca aberta. Caraca, eu tô falando com Deus!!!

- Duda?

- Ah! Sim! Desculpa, Senhor, eu fiquei até sem reação...

- Relaxa, todo mundo fica assim quando Me vê. Mas enfim, o que é que você queria falar?

- Bom, sabe o que é?

- Sei.

- Ah, é, eu esqueci que o Senhor...

- Rsrsrs... Todo mundo esquece. Mas fala mesmo assim, porque se você for transcrever essa conversa no blog o pessoal vai precisar saber do que a gente tá falando.

- Ah, claro. Bom, então, é que eu queria ver se não dava pro Senhor deixar eu voltar mais um pouquinho lá pra baixo.

- Entendi...

- Não que eu esteja questionando o Seu chamado, longe disso. Se o Senhor resolveu que era hora, quem sou eu pra discordar? Mas é que eu acho que, sei lá, o Senhor sabe, a gente faz umas bobagens de vez em quando e depois se arrepende, né? Vê que foi tudo uma perda de tempo...

- Tô ligado. E quanto tempo você pretende ficar lá embaixo de novo?

- Ah, só o suficiente pra descontar o tempo que eu desperdicei de verdade. Tipo, o Senhor quer ver, eu devo ter passado uns 48 minutos da minha vida vendo fragmentos de jogos de beisebol, pra ver se eu aprendia as regras. Nunca aprendi. Tempo jogado fora.

- Ah, mas aí foi opção sua, Eu num posso fazer nada. E depois, se Eu liberar pra você, teria que liberar pra todo mundo. Quase ninguém entende esse jogo...

- Ah, tá. Bom, eu também devo ter perdido uns 21 dias e meio somando o tempo que eu fiquei procurando vaga em shopping.

- Opção sua, também, cê não precisava ter ido de carro.

- Ééé, então, sei lá... Oito horas e quarenta procurando aqueles araminhos de fechar o pão de forma?

- Ah, Duda, essa Eu não vou nem comentar...

- Então, então... Ah! As aulas de Filosofia! Um ano no colegial, um ano na facu de Publicidade e mais um ano na facu de Direito! Três anos jogados no lixo, Senhor!

- É, mas tava no currículo escolar, você tinha que fazer. E depois, sem as aulas de Filosofia não teria rolado aquela história da Antígona...

- HAHAHA!!! O Senhor gostou daquilo?

- Ô, ri muito! Aliás, aquilo até chegou a ameaçar a vaga do Marcio aqui no céu durante uns anos, sabia? Mas com o tempo ele se recuperou... Mas péra aí, se você já tinha cursado na Publicidade, por que não pediu dispensa na facu de Direito?

- Eu pedi, mas não me liberaram, aí eu cursei de novo.

- Putz, Filosofia 3 vezes ninguém merece... Mas mesmo assim, não dá. Esse tempo Eu não posso te devolver...

- Ah! Já sei! Essa é boa! Eu vi Gomorra no DVD!

- Nuuuuooossa, é mesmo! No dia Eu até comentei com o Anjo Gabriel que Eu não entendi como é que você agüentou. E o pior é que você viu o filme inteiro, né?

- Inteiro!

- Uau! Quanto dura aquilo? Umas 2 horas?

- Duas horas e onze, Senhor.

- Nossa, véio, nesse dia cê foi ninja...

- Pois é... Que que é aquilo? Que que são aqueles atores? Que que é aquele roteiro?

- E tem uns planos meio longos demais, né? Desnecessário tudo aquilo, achei.

- Entããão, longos demais, tudo metido à besta demais...

- É, Duda, nesse caso cê tem razão, não é justo perder esse tempo da sua vida vendo Gomorra. Desce lá e aproveita direito essas 2h11...

- Nossa, Senhor, muito, muito, muito obrigado!

- Imagina. Agora vai lá que Eu tenho um monte de coisa pra fazer.

- Ah! Só mais uma coisinha, Senhor!

- Sim?

- Contando os letreiros, o filme tem 2h16.

- Mas cê viu os letreiros?

- Não, num vi.

- Então nada feito. São 2h11 e não se fala mais nisso.

- Beleza. Mais uma vez, muito obrigado, Senhor!

- Ah! E Duda?

- Sim, Senhor?

- Vê se num vai gastar esse tempo assistindo beisebol, hein?

PENSA NUMA PESSOA AFLITA

Acabei de ver a TV anunciar pra não sei que dia a transmissão ao vivo de uma partida de futebol entre Coréia do Sul e Coréia do Norte. Não consigo imaginar uma oportunidade melhor pra uma pessoa pedir demissão do que ser escalado pra narrar esse jogo...

ATÉ QUE NEM DOEU

Acabei esquecendo de comentar que depois de dias e dias de pé atrás, eu vi “Quem Quer Ser Um Milionário?”.

Mas como o meu grande amigo Marcio já destrinchou brilhantemente o filme no seu Bologue do Giacca (o link tá aí do lado), e como eu concordo com tudo que ele disse ali, vou só fazer 2 comentários:

O primeiro é que eu gostei do filme. Só acho também que ele não vale tantos prêmios assim, e que “Benjamin Button” é ainda mais legal.

E o segundo, e mais importante, é que eu nunca imaginei que os indianos pudessem adorar um deus que pertencesse à casta dos Smurfs. :o))

domingo, 22 de março de 2009

COISAS QUE EU ODEIO - 00002

Sabe outra coisa que eu odeio? Tupi-guarani. Putz, como isso me irrita!

E o que eu acho muito louco é que tem uma galera enorme que se dedica de verdade a preservar a língua. Os caras se reúnem, dão entrevistas, ficam mó preocupados, minha nossa, a cultura vai desaparecer, e agora, ai meu Deus... Ah, ô, deixa sumir essa merda! Você vai sentir falta? Eu num vou. Nem índio usa mais esse treco. E depois, de que cultura esses caras tão falando? Tá cheio de índio hoje em dia dando entrevista usando boné da Pepsi!

Aliás, se a gente parar pra pensar, tupi nem é uma língua de verdade. No máximo é um apanhado de umas 8 ou 9 sílabas que os caras misturam numa análise combinatória sorteada e saem falando. É que nem aquelas máquinas caça-níqueis, só que em vez de aparecer “limão-laranja-cereja-morango” aparece “mo-gi-gua-çu”. E aí, “eba, já temos uma palavra”!

Pra completar, tem ainda aquela necessidade incontrolável que parece que eles têm, de ficar descrevendo as coisas. Sim, porque os caras não podem simplesmente nomear o bagulho, eles precisam dar uma descrição detalhada do que tá acontecendo. A palavra é praticamente uma foto, tipo “lugar alto e barrento acima das pedras brancas”, ou “lugar em que a neblina cobre as árvores mas deixa entrever alguns tatus e, por que não dizer, dois ou três hâmsters”. Fala aí, cê faz questão de que alguém preserve isso? Por mim, pode deixar morrer que não vai fazer falta nenhuma.

Sem falar que quando essa língua sumir talvez eu pare de confundir as ruas de Moema.

TÁ OU NÃO TÁ?

Então, onde eu tava mesmo? Ah, sim, a menina de 17 anos planeja, junto com o namorado, matar a ex-namorada dele, que espera um filho do cara. Aí eles colocam chumbinho, o mata-rato mais ferrado que existe, num bolo, e deixam o tal do bolo na janela da casa do “alvo”. Só que o “alvo” tá tomando banho, então seus filhos de 6, 5 e 4 anos vão lá e comem o bagulho.

Corta.

Dois dias depois, as crianças já estão fora de perigo (não sei como), o tal do namorado está sendo procurado pela polícia e a menina de 17 anos, claro, já está presa. Mas o mais legal é que no seu depoimento ela afirmou que, assim que o namorado saiu para levar o bolo, ela foi imediatamente se esconder NA CASA DO PAI, porque SABIA QUE SERIA A SUSPEITA NÚMERO UM do crime.

Agora eu peço encarecidamente que você leia (ou releia) o segundo post desse blog, chamado “O ABP”, e me diga: tá ou não tá na hora de criarem o Adicional de Burrice na Pena?

quarta-feira, 18 de março de 2009

DEMOROU, MAS TÁ AQUI

Praticamente todo mundo que me conhece já ouviu essa história, mas acho que todos concordam que ela merece ser imortalizada. Então lá vai!

O ano era 1985, e eu tava viajando com os meus pais, o meu irmão e mais um monte de gente. E acontece que no meio do grupo tinha uma senhora que viajava sozinha, muito simpática, muito elegante, cujo nome era... IDIOTÍLIA!

Pois é, acredite: a mulher chamava Idiotília!!!

E por uma dessas coisas da vida, num belo dia tava todo mundo ali, se preparando pra ir não sei onde, quando alguém começou aquela tradicional contagem pra ver se não tava ficando ninguém pra trás. Contaram, contaram, contaram, e tchum, faltava uma pessoa.

Ué, quem será, não pode ser, conta de novo, vamu lá, um, dois, três, oito, doze, putz, tá faltando alguém mesmo!

Será, cê contou o gordinho, qual deles, o do boné, acho que sim, melhor contar de novo, um, dois, três, oito, doze, eita, tá faltando mesmo...

Caraca, e agora, quem será, num sei, é o barbudo, num é, é a antipática, num é, é o peludo, tá ali... Até que o meu pai descobriu. E decretou em alto e bom som:

- Aaaah... Tá faltando a dona Imbecília!

Agora tenta imaginar a explosão de gargalhadas que essa frase provocou. Imaginou? Pois pode quadruplicar. E olha, mais engraçado ainda foi o esforço que todo mundo teve que fazer pra segurar a risada na hora em que a mulher reapareceu! Sabe aquela situação em que fica todo mundo se segurando, respirando só pelo nariz, tentando mascar a risada dentro da boca? Se um olhar pro outro, pronto, fudeu. Se alguém deixar escapar um sorriso que seja, todo mundo explode junto. Mas no final a galera se segurou bravamente.

Aliás, deve ser por isso que eu venho contando essa história há 24 anos. Pra ver se eu libero, pouco a pouco, toda a risada que ficou presa naquele dia...

sábado, 14 de março de 2009

ENTREVISTA COM O BISPO (MAS PODIA SER COM O CAVALO)

Putz, nem ia mais escrever sobre isso, porque o assunto já deu. Mas é que eu acabei de ler na Veja a entrevista concedida (ou seria melhor dizer “cometida”?) pelo tal bispo da excomunhão lá. Se você ainda não viu, prepare-se, porque dá nojo. Mas só pra resumir, eu queria comentar três passagens da entrevista:

A primeira é aquela em que ele afirma que “dizem que Hitler chegou a matar 6 milhões de judeus”. Pois é, algumas pessoas realmente “dizem” isso. Mas também pode ser que seja tudo uma brincadeira, sei lá...

Na segunda, perguntado se teria algo mais a dizer sobre o caso da excomunhão, ele disse:

" - Sim, eu lamento não poder ter feito o batizado desses dois bebês. Eu estava planejando uma festa para esse dia, mas não aconteceu”.

Pô, confesso que essa me deixou com pena. Cancelaram a festa do cara! Mas temos que dar aqui mais um ponto pra sensibilidade do bispo! Porque eu não vejo situação mais apropriada pra se fazer uma festa do que o batizado de gêmeos filhos de uma menina de 9 anos violentada pelo mesmo padrasto que também estuprava a irmã dela de 14. Já imaginou que clima gostoso nesse batizado? Hein, fala aí?

E por último, mas não menos repugnante, tem a frase que, na minha opinião, simboliza tudo:

“- Seria tão bom se as criancinhas fossem como antigamente, quando nem tinham uso da razão mas já sabiam rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria”.

Pois é. Mas essa frase, na verdade, me fez pensar que o mundo tá evoluindo. Porque se as criancinhas mudaram mesmo desse jeito, pelo menos isso é sinal de que hoje, felizmente, as únicas pessoas que aprendem a rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria antes de fazerem o uso da razão são os bispos...

quarta-feira, 11 de março de 2009

PERDOAI-OS, SENHOR, ELES TAMBÉM NÃO SABEM O QUE ESCREVEM

Pois é, mais uma vez, habemus caca. Essa deu no L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano:

“A novidade que mais contribuiu para a liberação das mulheres no Século XX foi a máquina de lavar!”

Bom, tá certo que lavar batina deve mesmo dar um trabalho da porra, eu reconheço isso. Mas será que não tem ninguém sóbrio no Vaticano pra mandar esse povo calar a boca?

terça-feira, 10 de março de 2009

MULHER DE SORTE

Eu sempre tive uma baita curiosidade de saber o que os anos fariam com as mulheres ao lado das quais eu já pensei em envelhecer. Acho lindo gente que sabe assimilar com dignidade a passagem do tempo. Por isso eu sempre me perguntei que aparência elas teriam quando chegassem as rugas, os cabelos brancos... E vou te dizer, eu posso apostar que eu ia achar lindo.

Existe até uma teoria que diz que pra tirar essa dúvida a gente deve sempre olhar para as mães delas. Mas não é a mesma coisa. Em algumas famílias talvez até faça sentido, mas a resposta sempre vai ser, no máximo, aproximada. Nunca exata.

Pensando bem, acho que essa curiosidade nem é uma exclusividade minha, né? Imagino até que seja bem comum, e não apenas entre os homens. Mas eu resolvi dizer tudo isso porque agora, voltando do cinema, eu pensei na Angelina Jolie. Essa sim, tem uma puta de uma sorte. Porque enquanto todo mundo se pergunta que aparência terão seus parceiros quando ficarem mais velhos, tudo que ela precisa fazer é entrar numa locadora e alugar O Curioso Caso de Benjamin Button.

sexta-feira, 6 de março de 2009

PERDOAI-OS, SENHOR, ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM

Só pra ver se eu entendi: o cara que estupra e engravida a enteada de 9 anos é perdoado, mas os médicos que salvam a vida da menina são excomungados? É isso mesmo, ou eu ouvi errado?

Caraca, e como é que uma Igreja tão sábia anda perdendo seguidores?

quinta-feira, 5 de março de 2009

O GOL IOGURTE

Quem lembrou dessa história foi o meu grande amigo Rafa. Mas antes de contar o milagre, seria legal apresentar o santo.

Abre parênteses.

O autor da façanha chamava Juliano (ou Giuliano, sei lá). Loiro, cabelo escovinha, óculos de aro de tartaruga, usava sempre uma camiseta do Palmeiras e mexia muito as mãos enquanto falava.
É, talvez o nome dele fosse Giuliano mesmo. Bom, mas tanto faz.

O que interessa é que um dia o Juliano chega na escola fazendo aquela cara de quem tem informações privilegiadas sobre alguma coisa. Sabe quando o cara toma fôlego antes de dar uma grande notícia, mas não fala nada, pra fazer suspense? Eu achei que ele ia dar um arroto, mas aí ele anunciou:

- Eu sei cantar o hino do Grêmio.

A verdade é que quando você tem 9 anos e mora em São Paulo, conhecer alguém que canta o hino do Grêmio não está entre as coisas mais empolgantes. Mas mesmo diante da absoluta falta de reação da galera, o Juliano saiu cantando:

- Até a pé nós iremoooos
Para o que der e dieeeer...

Assim mesmo, “dier”, com d. O saudoso Oléa, que era o cara mais forte da classe, berrou:

- Moleque, você é burro!!! Num é “dier”, é “vier”!!!

Visivelmente contrariado com a interrupção, o Juliano perguntou:

- Você sabe o hino do Grêmio?

O Oléa, claro, respondeu que não. Aí o Juliano deu um sorriso superior, levantou as sobrancelhas e fuzilou:

- Então, COMO você sabe que não é “dier”?

Eu não sei vocês, mas eu achei a lógica do cara inatacável...

Fecha parênteses.

Hora do recreio. Todas as crianças jogando futebol. E Juliano, claro, não podia ficar de fora. Acontece que ele era o único cara que tinha o saudável hábito de não trocar a comida pelo futebol. Deixava sua lancheira ao lado da quadra, e ia comendo durante o jogo, sem prestar muita atenção no que tava rolando.

E então, o milagre aconteceu.

Finalzinho do recreio, jogo empatado, bola pra lá, bola pra cá, e o Juliano saca da lancheira seu iogurte Vigor de Morango. Mas como tomar iogurte jogando futebol não é muito fácil (mesmo pra alguém que aos 9 anos já sabe cantar o hino do Grêmio), nosso herói se esquece do jogo, limitando-se a caminhar pela quadra. É aí que, enquanto ele anda na direção do gol, alguém cruza uma bola na frente da área. E Juliano, marcado apenas pela Natureza e olhando apenas para o seu potinho, encaixa sem perceber a passada na trajetória da bola, e acerta sem querer uma bicuda indefensável no canto do goleiro. O mais legal é que ele foi a última pessoa da quadra a perceber que tinha feito o gol! Mas assim que entendeu o que tinha acontecido, Juliano jogou seu potinho pra cima e saiu correndo de braços abertos pra uma torcida que só ele via, inundando a quadra com aquele iogurte cor de rosa, e selando a grandiosa vitória de sua equipe!

Aí o sinal bateu, todo mundo voltou pra classe, e o Juliano passou o resto do ano dizendo que aquele era o Gol do Século. Mas pra gente, aquilo ficou conhecido mesmo, até hoje, como o Gol Iogurte.

VIDA NOVA

Chegou uma hora em que eu cansei de ser publicitário. Sabe por quê? É muito chato fazer parte de uma classe profissional que todo mundo odeia. Que todo mundo olha feio. É triste ouvir que as pessoas que fazem o que eu faço só querem enganar as outras pra ficar com o dinheiro delas. Sem falar que em todas as piadas o publicitário é sempre o desonesto da história, o enrolador, o filho da puta. É o cara que não tem ética, só pensa nele, blá, blá, blá... Por isso, um belo dia, eu resolvi procurar uma nova profissão.

Agora faltam só 3 anos pra eu me tornar advogado... :o))

quarta-feira, 4 de março de 2009

COISAS QUE EU ODEIO - 00001

Sabe uma coisa que eu odeio? Repórter que diz “as pessoas me perguntam nas ruas...” Ah, ô, tenha dó! Como assim, “as pessoas me perguntam nas ruas”? Você é quem, o Oráculo do Topo da Montanha? Pô, chega na frente da câmera e diz “olha, eu quero falar uma coisa”, e pronto. Ou então cria um blog, sei lá. Mas não vem com esse papinho, né?

Aliás, eu nem ia falar desse assunto, mas vocês sabem, as pessoas me perguntam nas ruas o que eu acho sobre isso, e eu achei melhor escancarar logo a minha opinião...

terça-feira, 3 de março de 2009

O ABP

Eu tenho uma tese.

Hahaha, já posso imaginar você pensando “huummm, lá vem...”, mas espera só um pouco porque a tese é boa.

É o Adicional de Burrice na Pena.

O ABP é um projeto que aumentaria a pena do condenado se ficasse provado que ele foi muito, muito burro, quando cometeu o crime.

Tipo aquele cara que assaltou uma casa no Campo Belo, e foi preso no dia seguinte porque tinha deixado cair o RG na sala da vítima.

Ou aquela quadrilha de São Bernardo que até lembrou de falsificar as placas do carro roubado, mas aí foi lá e escreveu “Frorianópolis” nas duas.

Fala aí, esses caras não merecem ficar presos mais tempo que os outros?

Dá até pra dizer que o ABP funcionaria como uma espécie de Darwinismo Jurídico, isolando da sociedade por mais tempo os caras que não conseguem ter pelo menos aquele mínimo de neurônios que alguém precisa pra virar ladrão.

Mas vejam, a pena só aumentaria se o ato estúpido em questão tivesse alguma relação com o crime. Fora do submundo, a pessoa pode ser burra o quanto ela quiser, sem ser importunada pela polícia. De repente pode até ser presidente, sei lá.

TRAGÉDIA GREGA

O ano era 1988, eu tava no primeiro colegial. Todo mundo ali, reunido na porta da sala de aula esperando a professora chegar. Aí aparece aquela cabecinha lá longe, começando a descer na nossa direção. Foi a senha pra galera resmungar:

- Pãããtsa, ela já tá vindo...

- Já? Pãããtsa...

- Pãããtsa... (pois é, a gente gostava meeesmo daquelas aulas de Filosofia...)

Mas o que interessa é que aí alguém vira e pergunta:

- Cês leram o texto pra prova?

- Li.

- Eu li.

- Pãããtsa, eu li.

- Texto? Que texto?

Esse último, claro, era eu. E não é que eu tinha esquecido de ler o texto. Eu não sabia era que havia um texto que tinha que ser lido. Muito menos que sobre esse texto haveria uma prova. E foi aí que uma das maiores demonstrações de coleguismo da história se transformou numa das maiores merdas da minha vida escolar.

Nesse momento a professora ainda não havia chegado na metade do caminho, até porque velocidade não era muito o forte dela. Era daquele tipo que falava baixinho, zen pra cacete, sempre de bata, cabelão encaracolado. Dava aula sentada em cima da mesa, balançando as sandalinhas. Resumindo, ela misturava a aparência da Janis Joplin com a animação do Charlie Brown. Deu pra imaginar, mais ou menos?

Pois bem, enquanto ela chegava, meus fiéis e queridos amigos iniciaram uma tentativa desesperada de me contar o que fosse possível a respeito do tal texto. Pelo menos pra eu não zerar na prova. Todo mundo falava ao mesmo tempo, cada um acrescentando uma parte da história, e eu ouvia tudo aquilo de olho nos passinhos da mulher que se aproximava. O que se seguiu foi mais ou menos assim:

(Rafa) – Bom, o texto era sobre Antígona.

(Eu) - Antígona?

(Pedro) - Isso. É do Sócrates. Não, do Sófocles.

(Eu) – Sócrates ou Sófocles?

(Pedro) - Sófocles, Sófocles...

(Eu) – Tá.

(Rogero) – Antígona era uma mulher que vivia na Grécia.

(Eu) – Beleza.

(Marcio) – É, era uma puta lá...

(Eu) – Tá.

(Fábio B) – Ela era irmã de Ismene.

(Eu) – De quem?

(Fábio B) – Is-me-ne.

(Eu) – Ah, tá, Ismene, beleza...

(Chris) – Coloca que ela se revoltou contra a tirania.

(Noro) – Isso, que ela enfrentou Creonte!

(Eu) – Tá, Ismene, tirania, Creonte... Beleza, o resto eu enrolo. Valeu, galera!

Sem brincadeira, fiquei até comovido com aquela demonstração de parceria! Todo mundo unido pra me tirar do sufoco. Mas percebam, aquele era um momento de aflição. Eu tava absorvendo qualquer informação que me dessem. QUALQUER informação...

Corta pra semana seguinte, dentro da sala de aula. A professora, sentadinha em cima da mesa, distribui as provas, chamando o aluno e dizendo a nota dele pra todo mundo. De repente, vem a bomba:

- Eduardo... (sim, meu nome é Eduardo). Zero.

Mas ela não falou “zero” com pena. Ela falou “zero” com raiva. Com ódio. Rancorzão, mesmo. E enquanto eu me levantava pra ir buscar minha prova com cara de bunda, ela olhou pra mim e disse:

- Eu só queria descobrir de onde você tirou que Antígona era uma prostituta...

Naquele momento os olhos daquela mulher diziam que ela me odiava. Eu olhei pro Marcio, que afinal era a fonte daquela informação, mas ele só fechou os olhos, deu um tapa na testa e resmungou “puta, Duda, você é burro pra caralho...”

Resolvi contar essa história gigante no meu primeiro post porque ela ressurgiu nesse final de semana, na quarta ou quinta comemoração do meu aniversário, justamente no jantar em que alguns amigos me incentivaram a criar esse blog. Estavam lá o Fábio G, a Paty, o Paulão, a Silvia... e o Marcio, que só de sacanagem me deu uma edição de bolso da Antígona. Finalmente, 21 anos depois, eu vou descobrir o que essa mulher fazia da vida! Mas se ela beijar alguém nessa história, ou der uma piscadinha que seja, eu vou lá no meu colégio pra pedir revisão de nota...