quarta-feira, 27 de maio de 2009

COINCIDÊNCIA

Entro na Imaginarium do Iguatemi. No mesmo instante, de um jeito assustadoramente sincronizado, o som da loja começa a tocar:

- Nada ficou no lugaaar...

Pois é, a própria. Ela, Adriana "A Vingadora" Calcanhoto. Juro pra você! Não pude, óbvio, deixar de sorrir com a ironia da situação. Mas o melhor estava por vir. Antes mesmo do fim da primeira estrofe a menina do caixa cortou a música e botou outra coisa pra tocar. Aí eu tive que cair na risada. Virei pra ela e falei:

- Putz, Adriana Calcanhoto ninguém merece, né?

E a menina, rindo:

- Ninguém...

Tinha entrado só pra olhar. Acabei comprando um porta-retrato.

terça-feira, 26 de maio de 2009

SIGA A BOLINHA LUMINOSA (E DEPOIS RISQUE OS DISCOS DELA)

Eu não suporto a Adriana Calcanhoto. Quer dizer, não é que eu não suporto a pessoa, imagina, nem conheço a mulher. Mas eu não suporto o que ela canta. Pô, que fulana mais sem orgulho! Cada música de pé na bunda é aquela cachoeira de inconformismo! Tudo é vingança, desforra, cê vai ver, vou te ferrar, vou arranhar seus discos... Caraca, minha filha, toca a vida!

Mas eu tô contando tudo isso porque eu lembrei que uma vez, conversando sobre esse assunto com a galera, eu fui tentando criar algumas frases que exemplificassem esse meu ponto de vista importantíssimo pra música mundial. E foi aí que acabou surgindo aquela que, pra mim, é a definição desse jeito Adriana Calcanhoto de ser:

“Eu vou jogar sal nas suas lesmas”. :o))

Fala aí, não é uma frase típica de música dela? Não combina com aquela animação de fila de banco? Com aquela voz de mundo acabando?

Daí eu pensei, pô, não deve ser tão difícil fazer uma música inteira assim, e ainda faturar algum com isso! Então eu resolvi penetrar nesse universo calcanhotístico compondo uma música inteira com novas modalidades de vingança. Saiu essa porcaria que tá aí embaixo, que eu vou mandar pra ela pra ver se ela num quer gravar.

A melodia é a mesma daquela música que começa com “Nada ficou no lugaaar...”, mas sem a parte do “que é pra ver se você vooolta”, que aí ia dar muito trabalho. Então lá vai:

Eu vou jogar sal nas suas leeesmas
Eu vou espirrar no seu prato-uu
Eu vou esconder sua ageeenda
Contar o final... dos seus livros

Eu vou botar mel no seu mooouse
Eu vou entupir o seu ralo-uu
Eu vou costurar os seus booolsos
Fazer tranças no... seu subaco

Eu vou tosquear suas oveeelhas
Eu vou soltar pum no seu carro-uu
Eu vou engordurar seu diploooma
Lamber as lentes... do seu óculos

Eu vou furar todas suas meeeias
Eu vou palitar seu umbigo-uu
Eu vou afogar seu texuuugo
Ligar pro seu chefe... a cobrar

Eu vou cancelar sua NEEET
Eu vou atrasar seu relógio-uu
Eu vou guardar queijo no armááário
E não vou mais ler... o seu blog

Bom, por enquanto é isso. Mas como as vinganças são inesgotáveis, quem quiser deixar sugestões nos comentários pode virar co-autor e assinar esse futuro sucesso junto comigo! Rsrsrs...

domingo, 17 de maio de 2009

O NONNO

Imagine o quanto uma criança pode amar um tio capaz de transformar uma coisa tão banal quanto o momento de deixar de chupar chupeta num evento gigantesco, com direito a uma volta olímpica de despedida contornando a piscina e a uma cerimônia de cremação da chupeta na churrasqueira.

Ou um tio que inventa um treinamento de goleiro em que ele passa horas arremessando uma almofada redonda pra você voar pela sala fazendo defesas sensacionais e, eu devo admitir, tomando frangos espetaculares.

Ou um tio que chama você pra nadar pelado de noite, quando você já não sabia mais o que fazer pra se livrar do calor.

Pois essas são apenas algumas das farras inesquecíveis inventadas pelo meu tio Raul, que a família toda sempre chamou de Nonno.

Nessa época a gente morava em Piracicaba. Meu pai trabalhava aqui em São Paulo a semana toda, e ia pra lá pra passar o final de semana com a gente. Minha mãe fazia faculdade à noite e, pra não sobrecarregar meu avô, que ficava com o meu irmão, quase todo dia ela me deixava na casa dos meus tios. Normalmente minha mãe me buscava depois da aula, mas várias e várias vezes eu dormia lá mesmo, de mãos dadas com a minha tia, a Nonna.

Em 1981, depois de 5 anos piracicabanos, nós acabamos voltando pra São Paulo, e pouco tempo depois o Nonno e a Nonna se mudaram pra Santos. Obviamente o amor pelos dois não mudou nada, mas, como era inevitável, a gente passou a se ver muito menos.

Há pouco tempo, falando por telefone, eu disse a ele que ia lá pra Santos fazer uma visita. Ele deu risada e disse “uh, rapaz, vem nada, você só fala que vem e não vem nunca”. Aí foi a minha vez de rir, e eu disse que iria, sim, porque eu tava desempregado e finalmente andava com as tardes livres. Então ele contou que ia viajar, mas que em 15 dias eles estariam de volta, e que aí eu podia ir quando quisesse. Só que os 15 dias passaram, e aí passaram outros dias, passaram outras semanas, passaram outros meses, e eu acabei não indo.

E eis que nesse dia 14 o Nonno foi embora, animar a galera lá em cima. Deixando centenas de histórias pra serem contadas e milhares de exemplos a serem seguidos, além de um vazio imenso na Nonna, no casal de filhos, no casal de netos oficiais e nos milhares de netos não-oficiais, porque todo mundo, parente ou não, sempre foi um pouco neto do Nonno.

Tenho certeza de que ele não tinha dúvidas sobre o quanto eu o amava, mas não sei se ele tinha uma noção exata sobre o quanto eu vou ser eternamente grato pela participação que ele e a Nonna tiveram na minha criação.

Se eu soubesse que isso ia acontecer, teria ido lá pra Santos pra dizer pessoalmente. Mas eu não fui. Por isso essa vai ser a primeira coisa que eu vou dizer pra ele no dia em que a gente se reencontrar lá em cima. Já a segunda eu ainda não decidi qual vai ser. Mas, se estiver calor, provavelmente será um convite pra nadar pelado no meio das nuvens...

Fica com Deus, Nonno querido! E muito, muito obrigado por tudo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

TODOS OS PALAVRÕES DO MUNDO

Sábado, 9h30 da madrugada. Triiiim! Triiiim! E triiiim!

- Alonfs!

Eu, decididamente, não consigo conversar direito quando acordo.

- Bom dia! Eu gostaria de estar falando com o senhor Eduardo?

O tom é de pergunta. Ela tá afirmando, mas o maldito tom, você sabe, é sempre de pergunta.

- Souspf...

- Perdão?

- Sou eunf...

- Aaah, é o senhor. Tudo bem com o senhor, senhor Eduardo?

- Tufff...

- Que bom!!!

Ninguém nunca tinha ficado tão feliz por saber que tava tudo bem comigo. Cínica.

- Aqui é, sei lá, Liziete Arruda, da American Express, e eu gostaria de saber se o senhor tem interesse no nosso novo cartão Championship Plus Fashion Week Of The World?

- Nãopf...

- Nãããããooooo?

- Nãopf...

- Mas por quêêêêê? O senhor não quer conhecer todas as vantagens que ele oferece, senhor Eduardo?

- Nóf...

- Perdão?

- Nãããopf!!!

- Mas eu posso saber por quê?

- Porque eu nunca aceito nada de uma empresa que me acorda no sábado de manhã...

Ela perdeu o rebolado, agradeceu gaguejando e desligou. Eu caí na risada, mas perdi o sono. Só que a história não acabou por aí.

Porque as meninas da American Express me acordaram de novo na segunda de manhã.

E me ligaram de novo na segunda à tarde.

E me acordaram de novo na terça de manhã.

E me ligaram de novo na terça à tarde.

Cada ligação feita por uma moça diferente. Andrienne, Suélen, Démymur e toda a fauna oficial... E eu, dalailâmicamente, pedindo pra tirarem o meu nome da bagaça, porque eu já tinha dito que não tava interessado.

Mas as meninas da American Express não conhecem a palavra “não”. As meninas da American Express são as soldadas do Império do Incômodo. As meninas da American Express têm uma meta a atingir. E ligaram de novo na quarta de manhã e na quarta à tarde. Dessa vez, no entanto, eu não tava em casa em nenhuma das 2 ligações.

Só que elas me acordaram de novo hoje. E, finalmente, no caminho até o telefone, eu decidi que já ia atender xingando. Não ia nem falar alô, ia arregaçar logo de cara. Mas pra aumentar ainda mais a minha raiva, quando eu botei a mão no telefone, elas desligaram. Imediatamente, todos os palavrões que eu ia soltar ficaram amontoados na minha boca, como uma multidão se empurrando pra passar na porta estreita de um cinema pegando fogo.

Agora eu estou esperando ansiosamente a ligação da tarde.

Aposto que ela vai render um belo post... :o))

quinta-feira, 7 de maio de 2009

CRIMINAL SCENE MELECATION

Outro dia eu tava vendo TV sossegado quando de repente entra uma chamada pro próximo capítulo do CSI. Aí aparece um cara futucando um cadáver, mó concentrado. Até aí tudo bem, todo episódio do CSI tem que ter cadáver futucado mesmo. Mas aí o cara vira pro tal do grisalhão que é o bonzão da série lá, e diz, com a maior naturalidade:

- Eu consigo enxergar o cérebro dele olhando pelas vias nasais.

Blaaaaargh, véio, que noooojo! Vai dormir! Quer dizer, tudo bem fazer uma série sobre entranha, mas precisa mesmo ser tão melequento assim?

O pior é que, em vez de deixar o assunto morrer (sorry, esse trocadilho ficou puxando a barra da minha calça, pedindo pra ser feito), eu fiquei imaginando como é que seria a vida desse cadáver se ele não fosse um cadáver ainda. Caraca, já pensou ter um canal aberto, direto, sem escalas, entre o nariz e o cérebro? Puta saco que deve ser, num deve?

Quer dizer, o cara dá um espirro e tchum, esquece a taboada do oito. Ou então ele assoa o nariz e começa a errar o nome do primo. Ou ele toma uma bolada na cara e vira canhoto de uma hora pra outra.

No fim eu fiquei me perguntando o que aconteceria no cérebro do cara se alguém espirrasse um jato de Rinosoro no nariz dele, só de sacanagem, mas aí deu sono e eu fui dormir sem conseguir formular uma conclusão decente...